Fosso econômico diz respeito à capacidade que uma empresa tem de manter vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes. Trata-se de uma analogia aos fossos que cercavam os castelos medievais para proteger os objetos de valor de invasores. Assim, o fosso econômico funciona como uma barreira contra outras empresas que tentam ganhar participação de mercado.
O termo foi cunhado por Warren Buffett, investidor, principal acionista, presidente do conselho e diretor executivo da Berkshire Hathaway. Buffett também foi várias vezes citado na lista da Forbes como uma das pessoas com maior capital do mundo.
Dessa forma, podemos dizer que empresas de qualidade são protegidas por fossos econômicos. Pois, assumiram a liderança dos seus mercados e ainda bloquearam seus concorrentes de conquistar maior participação do mercado. Como isso é possível?
Há várias maneiras de criar um fosso econômico. Além disso, é até mesmo possível que uma empresa consiga ter mais que um. Neste artigo, vamos apresentar a você as 6 fontes mais comuns de fosso econômico. Confira e veja como uma empresa pode se proteger com cada um deles e assim se tornar mais forte.
Você já viu uma imagem dos fossos dos castelos medievais?
Os fossos cercavam todo o castelo, podendo ser grandes valas secas ou tanques de água largos e profundos. Assim, o nível de proteção contra invasores era bastante elevado. Desse modo, era algo bem concreto que impedia a entrada de indesejados.
Porém, existe um tipo de fosso econômico tão eficiente quanto, mas impalpável. De forma semelhante aos castelos protegidos, os Ativos Intangíveis (Intangible Asset) cercam uma empresa e bloqueiam o avanço de concorrentes.
São as patentes, marcas, aprovações governamentais, cultura da empresa, licenças e etc. Esse tipo de fosse econômico permite que uma empresa proteja seu processo de produção. Com isso conseguem criar produtos exclusivos e únicos no mercado. Logo, podem cobrar um preço premium.
As patentes, por exemplo, são obtidas como resultado de arquivamentos das empresas com os governos para proteger seus conhecimentos. Essa proteção é válida por um longo período. Algo em torno de 20 anos.
Um exemplo de patente são as empresas do segmento farmacêutico.
Depois de gastar bilhões em pesquisa e desenvolvimento, ganham lucros elevados com medicamentos patenteados.
Nesse contexto, o fosso econômico pode ser corroído quando uma patente de grande sucesso expira. Então, os fabricantes de medicamentos genéricos poderiam copiar, reproduzir e vender o medicamento a um preço muito mais barato. Dessa forma, o mercado é completamente saturado.
Portanto, um grande fosso econômico está atrelado a um grande investimento de pesquisa e desenvolvimento. Inovando, é possível continuar produzindo novos produtos patenteados. Outra forma de manter ou aumentar este fosso econômico é comprar outras empresas com inovações patenteadas e bem-sucedidas.
Assim, os Ativos Intangíveis são construídos por empresas de vanguarda, com inovação e investimento em pesquisa e desenvolvimento. Dessa forma, alcançam a liderança, alcançam altos lucros e podem continuar produzindo novas patentes. Ou, comprar uma de seu interesse. De igual modo, mantém sua vantagem competitiva.
Em se tratando de marcas, temos o exemplo clássico da Coca-cola.
Embora tenha dezenas de refrigerantes semelhantes, a Coca ainda consegue cobrar 20% a 30% a mais que as “genéricas”.
Por quê?
Durante anos a Coca-Cola reinou como a principal marca do mundo. Quem nunca chegou num boteco, pediu uma Coca-Cola e o atendente disse que só tinha uma tal de “Cola-Tripa”? Geralmente, a nossa resposta é “então, me vê uma garrafa de água”. O motivo? Os consumidores se identificam com a Coca e continuam comprando sua marca favorita.
Desse modo, a marca é um fator determinante na escolha de um produto.
Finalmente, vamos lembrar o caso da Apple.
Os consumidores da marca são como um clã. A empresa conseguiu criar uma comunidade em torno da sua marca. Quem compra Apple não aceita nenhum outro concorrente.
Assim, a empresa aproveita o poder de sua marca para espremer os preços mais baixos de seus fornecedores. Afinal, quem não quer ser parceiro deste titã da tecnologia de consumo?
Dessa forma, a Apple é amada pelos seus consumidores e aclamada pelo seu mercado. Isso foi possível a partir de uma forte construção e gestão de marca. Sendo assim, a Apple criou para si um poderoso fosso econômico.
Os custos de mudança são outra faceta do fosso econômico. A ideia é tornar a troca de produtos ou serviços muito demorada e cara para os consumidores.
Empresas de tecnologia que oferecem soluções específicas de software são exemplos clássicos disso. Assim como certas indústrias ou profissionais com soluções customizadas.
Uma vez que o cliente dessas empresas começa a usar seu software, é improvável que ele mude. Consequentemente, a empresa consegue cobrar preços premium por seus produtos.
Novamente temos o exemplo da Apple. O seu ecossistema é o seu alto custo de mudança. Qualquer usuário de um iPhone, iPod Touch ou iPad saberia que só o iTunes trabalharia com seus dispositivos. Assim como o iCloud é o único capaz de sincronizar todos os aplicativos e dados entre os dispositivos.
O que aconteceria se um usuário de iPhone migrasse para outro dispositivo? O custo de tempo e adaptação seria muito alto, concorda? Por exemplo, atualizar música por música e baixar aplicativos novamente. Dessa maneira, a inconveniência é o custo de mudança que mantém os consumidores da marca.
Outro exemplo é o setor hospitalar, em específico o segmento de cirurgia médica.
Os cirurgiões treinam para fazer procedimentos usando dispositivos médicos específicos, como os produtos de juntas artificiais.
Depois de treinar para aprender a usar um produto específico, mudar para outro significaria perda de conforto e familiaridade.
Além disso, teria que treinar para usar um produto novo. O que resultaria em perda de tempo. Perda também de dinheiro, uma vez que seus procedimentos cirúrgicos parariam durante o processo de mudança.
Então, certos produtos e serviços possuem custos de mudança que podem ser bastante elevados. Logo, isso cria um fosso econômico ao redor dessas empresas.
O efeito de rede é uma das vantagens competitivas mais poderosas. É também uma das mais fáceis de detectar. Ela ocorre quando o valor de um bem ou serviço específico aumenta tanto para usuários novos quanto para usuários existentes. Afinal, cada vez mais usuários usam o serviço, criando um sentimento de pertencimento e conectividade.
Por exemplo, temos a Amazon.com e eBay. São empresas amplamente populares devido à grande quantidade de pessoas que compram e vendem vários produtos pelas plataformas.
Nesse sentido, temos também as redes sociais, como o Facebook.
É a maior rede social do mundo. É difícil para concorrentes chegar ou bater o número de usuários da rede. Assim, a empresa continua ganhando dinheiro com publicidade uma vez que a maioria das pessoas tem uma conta na plataforma.
Atualmente, o Facebook tem mais de um bilhão de usuários ativos. Ou seja, é um enorme efeito de rede. O Facebook já viu seus lucros explodirem depois monetizou com sucesso seus usuários. Como uma empresa típica de grandes fossos econômicos, suas margens de lucro são superiores a 30%.
Na Pride One, analisamos os relatórios anuais das empresas procurando por vantagens como economias de escala. Afinal, isso proporciona maior rentabilidade uma vez que conseguem aumentar a produção com menores custos.
A vantagem de custos é a capacidade de manter despesas operacionais muito baixas em relação às suas vendas. Isso não acontece com novos entrantes. Essa vantagem competitiva pode prejudicar a concorrência. Pois, as empresas com grande escala conseguem abaixar os preços e manter os rivais à distância.
Por exemplo, seria extremamente difícil para uma nova empresa de bebidas competir com a The Coca-Cola Comapny (KO). Por quê?
A Coca-Cola é capaz de produzir suas bebidas a custos muito baixos, engarrafando enormes quantidades de líquidos. Assim, a Coca-Cola consegue comprar matérias-primas a preços muito baratos porque está comprando numa escala muito maior que os concorrentes. Por outro lado, uma nova empresa de bebidas não terá este tipo de poder de negociação. Então, verá seus custos de entrada subir o custo unitário para cada garrafa de bebida produzida.
Considere também a Wal-Mart.
Esta gigantesca do varejo nos Estados Unidos possui um imenso volume de vendas e negocia preços baixos com seus fornecedores. Consequentemente, tem produtos de baixo custo em suas lojas. Preços estes que seus concorrentes têm dificuldade de replicar.
5. Escala Eficiente - Efficient Scale
A escala eficiente surge quando um mercado particular é melhor servido por um número limitado de empresas. Logo, esse cenário fornece a elas um status quase status de monopólio.
As empresas de serviços públicos são exemplos de empresas com escala eficiente. Pois, são necessárias para atender eletricidade e água aos seus clientes em uma única área geográfica.
Por outro lado, a construção de uma segunda empresa de serviços públicos na mesma área seria muito dispendiosa e ineficiente.
A localização geográfica é outro excelente exemplo.
Imagine que você tem uma propriedade em um local de desenvolvimento restrito. Ou, que possui proximidade única de um bem comercial. Só para exemplificar, que seja próxima a uma rodovia. Isso pode desencorajar concorrentes que de outra forma poderiam querer construir nessa área. Portanto, trata-se de uma vantagem competitiva. Em outras palavras, um tipo de fosso econômico.
Finalmente, chegamos ao nosso sexto tipo de fosso econômico, as barreiras de entrada.
De fato, todas as vantagens competitivas acima são barreiras de entradas em si. Contudo, às vezes você realmente tem obstáculos significativos específicos da indústria que impedem a entrada de novos players.
Vamos dar um exemplo prático só para ilustrar melhor.
Nesse sentido, temos as ferrovias. Fazendo uma analise no setor de ferroviário americano, vamos abordar especificamente a Union Pacific Corporation (UNP).
Se olharmos a malha onde ela atua, a entrada de um concorrente seria praticamente impossível. As ferrovias já estão estabelecidas no mercado americano e isso dificilmente vai mudar. Assim, as barreiras de entrada de um novo concorrente no negocio são extremamente elevados.
Mesmo que uma nova empresa decida construir novos trilhos, o que é quase impossível, ela teria enormes custos. Além disso, necessitariam de um capital enorme para realizar o projeto. Consequentemente, o investimento é inviável.
Como vimos neste artigo, existem diversas formas de uma empresa se manter no mercado com várias vantagens competitivas. Questões de marcas e patentes, licenças, facilidades de negociação e barreiras geográficas e etc.
Empresas que conseguem criar um forte fosso econômico protegendo seu patrimônio se sustentam no mercado e obtém altos lucros. E nós podemos ganhar junto com elas! Analisando e identificando negócios de alta qualidade conseguimos investir nos melhores ativos. Este é nosso objetivo e queremos compartilhar esse conhecimento com você!
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Carlos Augusto
Founder / CEO – Pride One
